segunda-feira, 25 de março de 2019

Tua Graça

Certa vez ouvi de um padre que a vida no Seminário é um “tempo de anonimato para aprender a ser nada”, um nada que deve ser transparência de Cristo, mas, a cada passo que damos, mais somos conhecidos e, paradoxalmente, quanto mais aparecemos, mais devemos desaparecer, porque, no seguimento de Cristo, crescer é diminuir, subir é descer, viver é morrer, como Ele chamou Sua glorificação à sua exaltação na Cruz. A vida sacerdotal é assim, coloca-nos à frente de muitos para tornar-nos os últimos, nos desapropria, nos desaloja e, apenas nos aproximamos, embora ainda a certa distância, já pressentimos o fardo suave desse doce mistério. Essa graça é ainda para nós esperança, prece e sacrifício e, por ser esperança, antecipa-se em alguma medida já agora o que esperamos será um dia exigido de nós em virtude da ordenação. Tocamos, já agora, os paradoxos da existência sacerdotal, devemos aparecer para desaparecer, crescer para diminuir a fim de que Cristo só apareça em nós.

Tu, amor, em mim concebes
esse estranho desejo de morrer,
de dar a vida e não mais me pertencer,
tornado prece, esperança e sacrifício,
esse desejo que me faz desfalecer
ao ouvir o que me dizes em segredo
e atraído até os pés de tua cruz
quedar rendido sem conseguir fitar a luz
de teu amor que me fere e que me cura
querendo refletir em mim tua formosura
levando em minhas mãos o teu mistério,
minha esperança, prece e sacrifício,
eis minha vida já aqui oferecida
para que faças de mim o que quiseres,
mas nada posso se não ajuda a tua graça,
isto peço, para até o fim não te trair,
a tua graça, e nada mais